sábado, 28 de janeiro de 2012

A oposição no Brasil, está nos braços de Morfeu

O silêncio da oposição incomoda. Desde 1945, incluindo o período do regime militar, nunca tivemos uma oposição tão minúscula e inoperante. Vivemos numa grande Coreia do Norte com louvações cotidianas à dirigente máxima do país e em clima de unanimidade ditatorial. A oposição desapareceu do mapa. E o seu principal partido, o PSDB, resolveu inventar uma nova forma de fazer política: a oposição invisível.

A fragilidade da ação oposicionista não pode ser atribuída à excelência da gestão governamental. Muito pelo contrário. O país encerrou o ano com a inflação em alta, a queda do crescimento econômico, o aprofundamento do perfil neocolonial das nossas exportações e com todas as obras do PAC atrasadas. E pior: o governo ficou marcado por graves acusações de corrupção que envolveram mais de meia dúzia de ministros. Falando em ministros, estes formaram uma das piores equipes da história do Brasil. A quase totalidade se destacou, infelizmente, pela incompetência e desconhecimento das suas atribuições ministeriais.

Mesmo assim, a oposição se manteve omissa. No Congresso Nacional, excetuando meia dúzia de vozes, o que se viu foi o absoluto silêncio. Deu até a impressão que as denúncias de corrupção incomodaram os próceres da oposição, que estavam mais preocupados em defender seus interesses paroquiais. Um bom (e triste) exemplo é o do presidente (sim, presidente) do PSDB, o deputado Sérgio Guerra. O principal representante do maior partido da oposição foi ao Palácio do Planalto. Numa democracia de verdade, lá seria recebido e ouvido como líder oposicionista. Mas no Brasil tudo é muito diferente. Demonstrando a pobreza ideológica que vivemos, Guerra lá compareceu como um simples parlamentar, de chapéu na mão, querendo a liberação de emendas que favoreciam suas bases eleitorais.

O partido está isolado, fruto da paralisia e da recusa de realizar uma ação oposicionista. Desta forma foi se afastando dos seus aliados tradicionais. É uma estratégia suicida e que acaba fortalecendo ainda mais a base governamental, que domina amplamente o Congresso Nacional e que deve vencer, neste ano, folgadamente as eleições nas principais cidades do país.
O mais grave é que o abandono do debate leva à despolitização da política. Hoje vivemos, e a oposição é a principal responsável, o pior momento da história republicana. O governo faz o que quer. Administra  o país sem ter qualquer projeto a não ser a perpetuação no poder. Com as reformas realizadas na última década do século XX foram criadas as condições para o crescimento dos últimos dez anos. Mas este processo está se esgotando e os sinais são visíveis. Não temos política industrial, agrícola, científica. Nada.

Ser oposição tem um custo. O parlamentar oposicionista tem de convencer o seu eleitor, por exemplo, que os recursos orçamentários não são do governo, independente de qual seja. Orçamento votado é para ser cumprido, e não servir de instrumento do Executivo para coagir o Legislativo. Quando o presidente do principal partido de oposição vai ao Palácio do Planalto pedir humildemente a liberação de um recurso orçamentário, está legitimando este processo perverso e antidemocrático, inexistente nas grandes democracias. Deveria fazer justamente o inverso: exigir, denunciar e, se necessário, mobilizar a população da sua região que seria beneficiada por este recurso. Mas aí é que mora o problema: teria de fazer política, no sentido clássico. Mas o principal partido de oposição está adormecido, seja pela ineficiência, ou por casuísmo, pela falta de um projeto que possa conduzi-los de volta a mesa de debates. Estão paralizados, numa inércia que parece ser eterna, sem previsão de melhoras.

Já do lado do governo, qualquer ação administrativa está estreitamente vinculada à manutenção no poder. Não há qualquer preocupação com a eficiência de um projeto. A conta é sempre eleitoral, se vai dar algum dividendo político. A transposição das águas do Rio São Francisco é um exemplo. Apesar de desaconselhado pelos estudiosos, o governo fez de tudo para iniciar a obra justamente em um ano eleitoral (2010). Gastou mais de um bilhão. Um ano depois, a obra está abandonada. Ruim? Não para o petismo. A candidata oficial ganhou em todos os nove estados da região e na área por onde a obra estava sendo realizada chegou a receber, no segundo turno, 95% dos votos, coisa que nem Benito Mussolini conseguiu nos seus plebiscitos na Itália fascista.

Se continuar com esta estratégia, a oposição caminha para a extinção. E o pior, sem imaginar que estão contribuindo para que o governo se perpetue no poder, transformando-os num regime ditador sem o uso da força bruta. O mais curioso é que tem milhões de eleitores que discordam do projeto petista, mas a oposição não sabe como se organizar, seja por vaidade de alguns ou por incompetência de outros. Enfim, mais uma vez o Brasil desafia a teoria política.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O Esquecimento da Sociologia

Durante o regime militar, alguns dos intelectuais afastados de suas cátedras e de suas pesquisas, continuaram trabalhando no exterior. Outros formaram núcleos de pesquisa independentes, como o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). Além de São Paulo, também Brasilia, Rio de Janeiro e Belo Horizonte criaram núcleos importantes de pesquisa e, mesmo dentro da universidade, agora expurgada, formaram-se diversos centros de pesquisa e de estudo em áreas específicas.

Impossível negar, de qualquer maneira, que a repressão política aos intelectuais e universitários, com as aposentadorias forçadas de professores, o exílio e a prisão de muitos profissionais de imprensa e do mercado editorial, foi um duro golpe ao desenvolvimento da sociologia.
A USP, onde se reconhecia a existencia de um grupo de pesquisadores articulados e convergentes, que chegou a ser chamada de escola paulista de sociologia, viu desaparecer seus maiores nomes. O amadurecimento da sociologia e de seu papel na reflexão sobre a sociedade brasileira foi violentamente interrompido.

Nos anos 1980, com a abertura política, surgem novos partidos e a vida política participativa começa a tomar fôlego. Muitos cientistas sociais decidem ingressar na politica propriamente dita. O PT foi o que mais se beneficiou com esse novo panorama. Florestan Fernandes, Antonio Candido de Mello e Souza e Fransico Weffort foram alguns nomes que engrossaram as fileiras da luta política do PT. Um saudável integração entra teoria social e prática política. O antropólogo Darcy Ribeiro seguiu pelo mesmo caminho filiando-se ao PDT, legenda que reivindicava o nacionalismo e o populismo do antigo líder Getúlio Vargas.

Outros nomes importantes da sociologia, como o de Fernando Henrique Cardoso, que esteve presente na fundação do PSDB, que emergiu de um movimento do PMDB, que por sua vez, originou-se do antigo MDB, partido que se opunha ao regime militar. Havia um propósito fundamentado.
O tempo foi passando e, enquanto outras áreas das ciências humanas adquiriam grande prestígio, como a economia, com a elaboração de modelos integrados de análise da sociedade e de formas de intervenção, a sociologia ficava cada vez mais isolada. Foi perdendo o brilho e o interesse, de intelectuais e universitários.
Na minha opinião, esse resultado se deve, a mudança de pensamento sobre as bases sociais e o desequilíbrio causado por um capitalismo liberal "teoricamente" triunfante.

Não quero defender aqui nenhuma bandeira do tipo "Fim do Capitalismo", "Abaixo a economia liberal" ou coisa parecida, mas quero apenas destacar, que necessitamos de um modelo integrado de estudo da Sociologia. Uma Sociologia participativa, coerente com os valores nacionais, de resgate ao respeito individual e de valorização do trabalho. Nenhum regime, seja qual for, se sustenta sem equilíbrio social e do capital humano.

Importante mantermos, num momento de economia globalizada, a noção de que com uma base social forte, teremos um país mas preparado a atender os anseios de uma sociedade em transformação. Portanto, lutemos por um resgate dos valores, que só o estudo da Sociologia nos dá.